Nos últimos anos, muitos avanços tecnológicos surgiram para tornar o diagnóstico mais preciso e personalizado, para desenvolver novas técnicas e materiais, para otimizar ainda mais processos na odontologia digital. Um exemplo do crescimento da indústria odontológica é a Impressão 3D. Em 2023, só essa tecnologia movimentou US$3,2 bilhões no mundo todo. Para este ano, a estimativa é de que chegue a US$ 4 bilhões e que esse número seja quatro vezes maior até 2032.
Se analisarmos outras inovações e ferramentas relacionadas à odontologia, notamos que a grande maioria segue esse avanço, fazendo com que os profissionais e clínicas estejam atualizando de maneira constante os equipamentos utilizados nos atendimentos. Além das ferramentas, as técnicas também são modificadas e aprimoradas com o avanço tecnológico e a consciência de que é preciso cada vez mais dar atenção à estrutura dentária como um todo, não apenas à parte estética.
Há dois anos, fui questionada sobre essas tendências, sobre quais seriam as três áreas da odontologia que estariam em alta e teriam maior investimento em tecnologia. Lembro muito bem da minha resposta: harmonização facial, odontologia focada em crianças e Dimensão Vertical de Oclusão (DVO). É sobre esta última que irei abordar de forma mais detalhada aqui porque é um processo que já virou realidade e que impacta diretamente a saúde bucal das pessoas, assim como nos resultados da harmonização facial.
O que é a DVO?
A sigla DVO refere-se a Dimensão Vertical de Oclusão, a medida inferior da face quando os dentes estão em oclusão, ou seja, a medida entre a base do nariz e a base do queixo quando os dentes estão em contato. O nome parece complicado, mas vai ficar mais claro a partir da explicação a seguir. Nossa face é dividida em três partes iguais.
Divisão da Face – Fonte de Imagem: Silmara Roeder
Quando há diferença entre o terço médio (o do meio) e o terço inferior, ou seja, quando o terço inferior está menor ou maior que a parte do meio, significa que houve perda ou aumento de DVO, o que não é nada bom para nossa saúde bucal. A consequência disso pode vir de forma silenciosa e gosto de reforçar esse ponto porque é muito comum meus clientes chegarem na clínica dizendo:
“Dra. Silmara, minha boca está diferente, tem alguma coisa errada.”
Chegam assustados porque perceberam que, do nada, o rosto, na região da boca, entortou. Não foi “do nada” e na verdade, não é a face ou a boca que está torta, mas a estrutura bucal que não está equilibrada. Mas o que gera esse desequilíbrio? Alguns fatores e um deles é a diminuição na altura dos dentes posteriores provocada pelo desgaste dentário que irei explicar a seguir.
A abertura da nossa mandíbula pode ser comparada a abertura de uma tesoura. Se há perda de, por exemplo, 1 mm de altura dos dentes posteriores, a parte da frente reduz três vezes mais, ou seja, há perda de 3 mm. Olhando assim, pode parecer que essas medidas, por estarem em milímetros, não sejam preocupantes, mas são. De milímetro a milímetro, a estrutura bucal vai desalinhando fazendo com que o dente da frente desgaste, incline ou entorte. Vamos a um exemplo diário de como isso acontece:
- Como você faz a sua mastigação?
- Procura balancear mastigando o alimento dos dois lados ou tende a utilizar mais que um do que outro?
É uma pergunta simples, mas que a maioria das pessoas não sabe responder porque não tem o hábito de observar quais são os movimentos da boca quando se alimentam. O que acontece em grande parte dos casos é que a mastigação acaba sendo realizada muito mais de um lado da boca do que do outro. Esse desequilíbrio pode gerar desgaste dentário no lado mais utilizado e, como consequência, há o que chamamos de remodelação óssea pelo próprio corpo. Ou seja, a base óssea do lado que há maior ação de mastigação sobe e a mandíbula acompanha essa subida.
O aspecto de “torto” da boca ou do rosto é o resultado da mandíbula estar mais curta do lado que mastiga mais, pois trabalha mais, e mais longa no lado que há menor mastigação, pois há menor trabalho envolvido. Ou seja, no lado onde há maior esforço, há maior diminuição na cabeça da mandíbula, o que faz com que a altura facial reduza desse lado. Já no lado oposto, em que há menor esforço, o ramo da mandíbula acaba se deslocando de dentro da cavidade e alonga a face pois há estiramento dos ligamentos.
E se acredita que somente essa questão, de mastigar mais de um lado do que outro, que impacta na perda ou aumento de DVO, está enganado(a). Outro fator que pode prejudicar ainda mais esse desequilíbrio bucal é quando há bruxismo ou apertamento dentário, pois a tendência é que a pessoa force ainda o lado da boca que já tende a trabalhar mais. Isso acontece porque a mandíbula acaba deslocando para o lado menor, o mais baixo, da altura da face e o bruxismo acaba ficando mais acentuado.
@drasilmararoederO que é DVO?
♬ som original – draSilmaraRoeder
Cuidado para não colocar sua saúde bucal em risco
Um dos grandes erros de quem percebe que o rosto entortou é acreditar que o problema pode ser solucionado com a harmonização facial. Sim, essa especialidade da odontologia é responsável pelo equilíbrio estético e funcional da face, e justamente por isso surge como primeira opção. Acontece que nem sempre o problema é apenas estético. Pode ser que o grande desafio seja a redução ou aumento de DVO e nesse caso a harmonização facial não vai adiantar. Poderá ser feita? Sim, mas não vai conseguir gerar simetria no rosto pois o que precisa ser feito antes é o restabelecimento da DVO, ou seja, uma recuperação para que as medidas do rosto voltem a se igualar.
Se a questão da DVO não for identificada e outros procedimentos e técnicas forem aplicados para solucionar o problema, há uma grande probabilidade de agravar ainda mais essa diferença e ainda gerar novos desafios. Algumas das consequências da DVO são:
- Alteração muscular;
- Inflamação dos lábios (queilite angular);
- Dificuldade e alteração na fala;
- Envelhecimento precoce da face;
- Bigode Chinês precoce;
- Sorriso sem expressão positiva;
- Dificuldade na mastigação;
- Maior probabilidade de morder a língua e bochechas;
- Entre outros.
O conhecimento sobre a DVO é ainda muito recente, tanto que não há uma formação específica para isso dentro da Odontologia. Por isso, meu papel como profissional e mentora da área, é compartilhar o que aprendi sobre os efeitos da perda de DVO ao longo de tantos anos cuidando da saúde bucal de meus clientes. Precisamos olhar e tratar as causas reais para assim conseguir recuperar a estrutura dentária que permite melhorar a qualidade de vida, longevidade e autoestima de todos nós.