O terceiro motivo que mais afasta os brasileiros do trabalho é a ansiedade, segundo um levantamento feito pelo Ministério da Previdência Social entre outubro de 2023 e setembro de 2024. A patologia, que entrou para a lista oficial de doenças profissionais no Brasil em dezembro de 2023, ocupava a 10ª posição no ranking de causas de afastamentos em 2021 e hoje fica atrás apenas de dores nas costas e outros problemas relacionados aos discos intervertebrais.
Uma das maiores causadoras desse crescimento da ansiedade na população foi a pandemia Esse aumento da ansiedade não apenas fez com que o Brasil ocupasse hoje a posição de país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas que também aumentasse expressivamente problemas de saúde bucal, como o briquismo, de acordo com artigo publicado em 2022 no Brazilian Journal of Pain. Isso aconteceu porque a ansiedade consegue desencadear ou mesmo gravar problemas nos dentes, tecidos e nas demais estruturas bucais, podendo comprometer, inclusive, a saúde geral.
Como profissionais da Odontologia, nós sabemos o quanto um sorriso e boca saudáveis podem impactar positivamente na autoestima e qualidade de vida dos nossos pacientes, e atuamos diariamente para que tenham isso. Porém, o que percebo no mercado é que o tema ansiedade e seus efeitos na saúde bucal só são falados quando o problema já existe. Por isso, em minhas mentorias e treinamentos, reforço a necessidade de construirmos e oferecermos aos pacientes um excelente atendimento, com boa comunicação, transparência e confiança entre ambos os lados. O sucesso de qualquer tratamento está conectado a esse relacionamento e o combate ao “mal do século” chamado ansiedade também.
Importância do diálogo para o diagnóstico da ansiedade
Conversar sobre ansiedade com os pacientes não é algo que deve ser restrito a apenas a área da psicologia. Nós, dentistas, também precisamos nos atentar a essa patologia e os sinais que ela dá para prevenir futuros problemas bucais e/ou tratar o que surgiram. Conhecer bem sobre o histórico de saúde do paciente é fundamental, mas é preciso ir além e também ter informações sobre o estilo de vida dele.
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Quanto mais detalhes tiver sobre a relação do paciente com o trabalho, familiares e alimentação, e qual seu comportamento em relação ao mundo, crises mundiais, mudanças climáticas, tendência a se autodiagnosticar, consumo e uso de eletrônicos,internet e jogos, mais poderá auxiliá-lo, esclarecendo o quanto essas questões podem interferir na saúde bucal. Vou lhe dar um exemplo relacionado aos jovens: desde o caos gerado pelo Covid-19, a incidência de ansiedade nos jovens ultrapassou a taxa dos adultos.
Fonte da Imagem: Folha
Tendo ciência da informação acima, lembramos da importância de reforçar a comunicação e relacionamento não apenas com os pacientes mais novos, mas também seus responsáveis. Entender sobre suas rotinas não auxilia apenas a diagnosticar consequências da ansiedade nos dentes, boca e gengiva, mas também outras situações que podem prejudicar a saúde bucal.
No diálogo com os pacientes, independente da idade, vale a pena esclarecer que cuidar da mente também é cuidar da saúde bucal e que o estresse frequente e em excesso pode ter diversas consequências diretamente conectadas a estrutura bucal.
Consequências da ansiedade na saúde bucal
Ansiedade, de acordo com o Ministério da Saúde, é um fenômeno que pode tanto beneficiar quanto prejudicar o organismo (mente e corpo), tudo vai depender das circunstâncias e/ou intensidade. Na maioria dos casos, a ansiedade está conectada a preocupações, tensões e/ou medos que fazem com que a pessoa não consiga agir ou mesmo relaxar.
Desde a pandemia do Covid-19, estudos e profissionais da área odontológica têm observado a relação entre o momento vivido por nós, a ansiedade e quadros de briquismo. Os pacientes chegam ao consultório reclamando de dores de cabeça crônicas, dores no pescoço, estalos ao abrir a boca, mudanças na qualidade do sono, mais sensibilidade nos dentes, fraturas nos dentes, famoso zumbido no ouvido, desgastes nos dentes, problemas gengivais, dores articulares, dores musculares, entre outros. Esses sintomas, normalmente, são respostas do hábito de apertar ou ranger os dentes, ações que podem ser ocasionadas pela ansiedade.
Além desse problema bucal, a ansiedade também está associada a má higienização e ao estresse. No primeiro caso, o paciente com ansiedade acaba deixando de cuidar de si e da higiene bucal, deixando o caminho livre para o crescimento de bactérias. No segundo caso, o estresse, a ansiedade pode gerar consequências graves a boca e corpo. O estresse em excesso tem capacidade de alterar o organismo e as condições na mucosa bucal, os quais podem ocasionar os seguintes problemas:
- Herpes Labial: infecção causada pelo vírus da Herpes Simples Tipo 1 que pode surgir em função de alterações do sistema nervoso central devido a estados de exaustão emocional ou física que afetam o sistema imunológico. Na maioria das vezes ocorre próxima aos lábios, gerando pequenas bolhas avermelhadas e inchadas que podem coçar e/ou arder;
- Briquismo: movimento da estrutura dentária que força o contato entre as superfícies inferior e superior, e que ocorre de forma involuntária durante a noite ou dia. A tensão diária gerada pelo estresse e ansiedade pode agravar o zumbido no ouvido do paciente, o desgaste nos dentes, as dores articulares e musculares, já que há um maior apertamento dentário e contraturas musculares próximas ao ouvido;
- Úlcera Aftosa (Aftas): pequenas feridas dentro da boca que surgem quando a mucosa oral é alterada. Podem ter diversos tamanhos, surgindo de forma isolada ou não.
- Líquen Plano: inflamação crônica que afeta a mucosa da boca e tem relação com o sistema imunológico. Na maioria dos casos, as mulheres são as mais afetadas e pode estar relacionado com o estresse emocional.
Fora isso, a ansiedade também pode alterar a produção e fluxo de saliva na boca, o que favorece a ocorrência de halitose (mau hálito) e cárie dentária.
Ao diagnosticar a ansiedade nos seus pacientes, além de orientá-los em relação às possíveis doenças bucais e melhores práticas de higiene bucal, recomende também a cuidar de si de outras formas, buscando aplicar técnicas de relaxamento, como exercícios de respiração, e auxílio de profissional especializado no tratamento de ansiedade.