O Brasil possui 212,6 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE de julho de 2024, mas nem todos possuem a oportunidade de cuidar de seus dentes, boca e gengiva. De acordo com a Agência Brasil, atualmente nem metade da população possui cobertura em saúde bucal, apenas 45%. Ao ter ciência de taxas como essa, a nossa preocupação como profissionais da Odontologia aumenta da mesma forma que quando encontramos conhecidos ou desconhecidos com uma aparência física e vestimenta muito boa, mas os dentes mal cuidados.
Para muitos, a Odontologia é uma área da saúde que serve apenas para apagar incêndio. Ou seja, ir a uma consulta ao dentista só se faz necessário quando há uma dor de dente, uma inflamação na boca ou quando há um dente quebrado ou fraturado. Acabam dando prioridade a outros cuidados do corpo, esquecendo de dar a devida atenção à saúde bucal.
O nosso papel como profissionais da Odontologia é muito maior do que somente aliviar os sintomas e/ou consertar o que quebrou ou fraturou. Nós temos em mãos o poder e a responsabilidade de olhar e cuidar da estrutura bucal dos nossos pacientes para que não ocorram problemas que prejudiquem a qualidade de vida e longevidade deles. Por isso, em meus treinamentos e mentorias, assim como nas redes sociais, reforço o fato de que o nosso trabalho deve estar apoiado nos quatro pilares da Odontologia.
Pilar 1 – Saúde
Primeiro e o mais importante pilar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde define-se pelo estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades. Isso significa que tudo o que tiver o poder de interferir nesse bem-estar precisa de atenção e a saúde bucal está nesta lista, já que os problemas bucais podem limitar o modo e estilo de vida das pessoas.
As doenças bucais podem, por exemplo, interferir na alimentação, na fala, no sono, na interação social e comunicação, na autoestima, na carreira e assim por diante. Se essa interferência é negativa, a curto ou a longo prazo, tornam-se prejudiciais à qualidade de vida. Dessa forma, nós, dentistas, temos que não apenas ter ciência, mas também esclarecer a importância do Pilar Saúde aos nossos pacientes.
Ao cuidar e tratar da estrutura bucal, conseguimos ter uma saúde bucal com ausência de doença por toda a vida do paciente e, diretamente, prevenir problemas de saúde que afetam o corpo como um todo. Por exemplo, algumas doenças bucais, como a gengivite e periodontite, podem ser reflexo de alguma patologia sistêmica que, se não diagnosticadas e tratadas, podem não somente agravar o problema imunológico como também provocar outras doenças e/ou problemas corporais. Um ciclo que costuma ocorrer é: o paciente está com o sistema imunológico afetado em função de estresse ou ansiedade, a porta se abre para o surgimento de doenças periodontais, o que acaba dificultando o processo de alimentação, pois ele não consegue comer e mastigar direito, fazendo com que o corpo não absorva os nutrientes necessários, prejudicando a saúde do organismo.
Portanto, é necessário orientarmos nossos pacientes de que, para termos uma boa saúde bucal, as visitas regulares ao dentista e a boa higiene bucal são tão fundamentais quanto manter um estilo de vida com hábitos que beneficiem o organismo. Ao conseguir dar saúde ao paciente, nós vamos para o segundo e terceiro pilar da Odontologia, estrutura e funcionalidade, respectivamente.
Pilar 2 e 3 – Estrutura e Funcionalidade
Estrutura e funcionalidade caminham juntas, pois a primeira é necessária para que se possa desenvolver a segunda. Ou seja, sem ter uma boa estrutura, as funções que acontecem na boca ou que dependem dela são afetadas. Por quê? Vamos detalhar mais sobre essas questões.
A boca é composta por estruturas, dentes, língua, lábios, gengiva, bochecha e palato, que possuem o papel de auxiliar o ser humano nos processos de respiração, alimentação, mastigação, deglutição e fala. Para que eles ocorram corretamente, não deve haver sinal de dor ou mesmo de desconforto. No caso do processo de mastigação, por exemplo, uma dor leve ou mesmo um pequeno desequilíbrio oclusal pode gerar um problema de saúde não apenas bucal mas geral.
Quais são as principais funções de cada uma das estruturas bucais?
- Dentes: o papel mais importante dos dentes é o de cortar e mastigar os alimentos para que possam ser corretamente digeridos. Além disso, eles auxiliam na pronúncia de determinados sons e contribuem para o formato e estética da face;
- Gengiva: é o tecido presente ao redor dos dentes que tem a responsabilidade de unir e fixar os dentes aos ossos, protegendo-os de ações bacterianas;
- Lábios: a principal função dos lábios é a de ajudar nos processos de alimentação e a amamentação, já que auxiliam na sucção de alimentos e bebidas, assim como mantém a saliva dentro da boca quando fechados. Os lábios ainda contribuem com o processo de fala, pois tornam-se obstáculos do ar que vem dos pulmões, ajudando a formar determinados fonemas;
- Língua: essa estrutura contribui tanto para a fala quanto na mastigação, pois a movimentação que ela faz ajuda a formar fonemas e a enviar os alimentos deglutidos na boca para o esôfago. A língua ainda é a responsável por identificar sabores.
- Bochecha: assim como os lábios, a bochecha também auxilia na sucção de alimentos e bebidas e contribui com que os alimentos e a saliva permaneçam dentro da boca;
- Palato (céu da boca): possui três funções importantes. A primeira é a de atuar como barreira entre a boca e a cavidade nasal. A segunda é a de auxiliar no processo de fala em trabalho conjunto com a língua e a terceira é a de ajudar na deglutição dos alimentos.
A saliva, como sabemos, não é uma estrutura bucal porém uma substância necessária para que as estruturas permaneçam saudáveis e realizem as funções. É com o auxílio da saliva que o processo de digestão dos alimentos começa, é ela que umedece a boca e também é ela que protege os dentes contra a ação das bactérias presentes na boca, evitando doenças bucais como cárie e periodontais.
Pilar 4 da Odontologia – Estética
A Estética entra como o quarto pilar da Odontologia e ocupa essa posição não por ter menos importância que os outros três, mas porque para ter resultados positivos e benéficos ao paciente, precisamos passar e cuidar dos anteriores. A Odontologia Estética tem o principal papel de gerar mais autoestima ao paciente, deixando o sorriso mais harmônico e bonito, e acaba sendo um processo que surge naturalmente ao final do tratamento dos outros três pilares.
Atualmente, somos o segundo país que mais realiza procedimentos odontológicos no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos, segundo a Sociedade Brasileira de Odontologia e Estética (SBOE). Grande parte das demandas que chegam aos nossos consultórios de fato surgem por determinadas tendências, vontade de ficar com o sorriso mais bonito ou mesmo um desconforto de imagem, porém, como profissionais precisamos analisar se, além da questão estética, há ainda possíveis problemas bucais que podem ser tratados ou evitados com o procedimento.
As facetas dentárias, por exemplo, podem ser utilizadas para corrigir formato e melhorar a cor dos dentes, assim como também podem ser utilizadas para tratar algum desgaste no dente que já possa ou poderá prejudicar a mordida e, consequentemente, o sono e mastigação. Outro caso bastante comum é o procedimento de aplicação de Botox, o qual é popularmente conhecido para rejuvenescer a face, porém, a toxina botulínica pode contribuir com o tratamento de problemas na gengiva e até mesmo o briquismo, já que o botox pode auxiliar a reduzir a tensão da musculatura.
DVO e os 4 pilares da Odontologia
Quando meus mentorados e alunos iniciam o processo de conhecimento da importância da Dimensão Vertical de Oclusão (DVO) na saúde bucal dos pacientes, entendem que o processo de devolução de DVO não é benéfica apenas para o pilar da saúde, mas também para os outros três. Por quê? Porque o principal papel da devolução de DVO é devolver o equilíbrio e a correta posição da mandíbula e dos dentes na cavidade bucal. Isso significa que ao restabelecer o equilíbrio da mordida, ou seja, o equilíbrio da oclusão, devolvemos estrutura e funcionalidade à boca.
A partir do momento que temos uma correta estrutura e funcionalidade em função do processo de devolução de DVO, abrimos um caminho mais sustentável para o pilar da Estética, pois com a boca estruturada e funcional, o material estético utilizado possui mais proteção e a probabilidade do dente cair, quebrar ou sofrer alguma outra alteração é menor, fazendo com que o paciente não tenha que retornar de forma constante ao consultório. Além disso, uma DVO bem estabelecida também favorece a saúde do periodonto, pois com o equilíbrio da oclusão, não há geração de trauma dos dentes pois os pontos de contato estão equilibrados. Outro fator importante é que quando esse pontos de contato estão equilibrados, havendo um apertamento dentário menor, a tendência é a de que o paciente não desenvolva cárie, favorecendo a saúde bucal e geral.
A DVO tem conexão e deve ser analisada em todos os pilares da saúde bucal, garantindo saúde, manutenção da estrutura, funcionalidade e estética. Isso significa que, independente do motivo que faz com que o paciente vá a uma consulta, é fundamental, para sua carreira e saúde de quem atende, que você realize um atendimento com base nos quatro pilares. De nada adianta tratar um problema visível e deixar que outros internos ou ainda não perceptíveis ao paciente continuem sem cuidado, colocando a saúde bucal e geral em risco.
