O nascimento de uma criança gera aos pais uma nova responsabilidade e os faz dar atenção a diversos novos assuntos que até então não faziam parte de suas rotinas. Os cuidados com a saúde bucal dos pequenos é um deles e questionamentos como “Com quantos anos devem iniciar a escovação dos dentes?”, “Será que o uso da chupeta prejudica os dentes mesmo? E chupar o dedo?” ou “Meu filho pode usar o mesmo creme dental que eu?”, são perguntas que os pais fazem e realmente devem fazer.
Quanto antes os cuidados com a saúde bucal das crianças forem colocados como prioridade, melhor será o desenvolvimento da estrutura dentária delas ao longo da vida. As ações para proteger os dentes auxiliam a criar barreiras e reduzir o surgimento de doenças bucais como doenças gengivais, mau hálito e cáries, mas além de saber o que fazer para prevenir, é preciso também entender o que pode impactar a saúde dos dentes e da boca na infância.
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O velho e o novo vilão da saúde bucal das crianças
Dentro da área da odontologia e saúde bucal, há anos lidamos com um vilão que foi ganhando cada vez mais espaço, principalmente em função do alto consumo de açúcar em idades iniciais, a famosa cárie. Apesar do número de crianças com até cinco anos de idade que possuem cáries ter reduzido em 10% nos últimos 10 anos no Brasil, a taxa ainda é alta, 46,83%, segundo a pesquisa nacional de saúde bucal SB.
A cárie é uma doença que afeta os tecidos dentários. Quando consumimos carboidratos, em especial açúcares, as bactérias presentes na placa dental produzem ácidos que vão desfazendo a estrutura mineral do dente, formando os famosos “buracos”. De acordo com a Associação Internacional de Odontopediatria (IAPD), a cárie afeta cerca de 600 milhões de crianças em idade pré-escolar no mundo todo. Isso significa que os pais só devem começar a se preocupar com a higiene bucal dos filhos entre os dois e cinco anos? Pelo contrário, é preciso iniciar os cuidados bem antes, porque os bebês também podem ser cáries.
Sabia que incluir o açúcar na dieta dos bebês e parar de amamentar precocemente pode contribuir para o desenvolvimento de cáries em crianças de até dois anos? Em curto prazo, talvez as consequências negativas não sejam perceptíveis a saúde bucal, mas a longo prazo sim em razão do hábito alimentar formado, incentivando a criança a buscar mais alimentos ricos em açúcar.
Entenda qual o papel da dieta na saúde bucal clicando aqui
Se já não bastasse esse mau hábito alimentar impactando na qualidade da estrutura dentária das crianças, outro hábito ruim surgiu nos últimos anos com o aumento do acesso às telas e tem preocupado tanto quanto o primeiro. Em 2023, o Comitê Gestor da Internet realizou uma pesquisa com mais de 25 milhões de crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, e identificou que 95% deles estão conectados à Internet. O problema em si não é estar conectado, mas sim o tempo que eles passam em frente às telas, seja computador, tablet, celular ou televisão. Crianças de 0 a 12 anos ficam em média 3h53 por dia usando smartphone, de acordo com a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box. Esse tempo é superior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual orienta que:
- Crianças de até dois anos de idade não tenham acesso a telas;
- Crianças entre dois e cinco anos de idade utilizem no máximo 1h por dia; e
- Crianças entre seis e 10 anos fiquem até 2h diárias em frente às telas.
Mas como o tempo em frente a tela impacta na saúde bucal? Alguma vez já presenciou a cena de um bebê ou criança olhando fixamente e de boca aberta para o desenho na televisão ou tablet? Pode parecer engraçado e até mesmo fofo na hora, mas o hábito constante de manter a boca aberta prejudica a saúde oral. Quando elas mantêm a boca aberta, a tendência é de que suas respirações sejam feitas pela boca e não pelo nariz, afetando a produção de saliva que tem função fundamental na proteção, limpeza e manutenção da saúde dos dentes. Com o tempo, o corpo tende a acostumar que a respiração pela boca é normal, impactando em outros momentos do dia e podendo gerar apneia do sono, ansiedade, bruxismo e outras doenças.
Qual a importância da Odontologia Infantil?
A Odontologia Infantil, chamada também de Odontopediatria, atua na prevenção e tratamento de doenças bucais, assim como na educação de hábitos saudáveis e higiene oral. Quando avaliamos a saúde bucal das crianças, podemos agir em três níveis distintos:
- Preventivo: quando diagnosticamos futuros problemas e buscamos minimizar ao máximo a gravidade deles. Por exemplo, se hoje a criança usa bico, respira pela boca, chupa o dedo ou mesmo rói unhas, lá na frente isso poderá ser um desafio bucal e é nosso papel orientar os pais em relação a isso;
- Interceptativo: quando há o diagnóstico de pequenas alterações na estrutura dentária da criança, afetando o processo da troca de dentes, é necessário agir com o uso de aparelhos ortodônticos ou ortopédicos, por exemplo; e
- Corretivo: quando o problema é diagnosticado já com a dentição permanente, sendo então necessária a ação de tratamentos com aparelhos fixos ou removíveis para corrigir desalinhamentos e modificações no maxilar.
É no processo de avaliação da estrutura dentária das crianças e acompanhamento da troca entre os dentes decíduos (de leite) e permanentes que identificamos se a formação das Curvas de Wilson e Spee estão corretas ou não.
Curvas de Wilson
A curva de Wilson refere-se à curvatura dos dentes posteriores (molares e pré-molares). É ela que permite termos uma boa estabilidade oclusal e mastigação eficiente pois mantém a mordida estável. Quando os primeiros molares começam a aparecer, ou seja, tornam-se visíveis na gengiva, essa curvatura começa a se formar e a distribuir as forças na boca para a mastigação. Se o desenvolvimento desses dentes for afetado, a curva de Wilson também é afetada e, consequentemente, as forças mastigatórias não são distribuídas de forma igualitária pela boca.
Curva de Spee
A curva de Spee refere-se à curvatura anteroposterior dos dentes, ou seja, a linha dos dentes posteriores que vai da ponta dos caninos até a ponta dos molares. Ela começa a se formar já na fase dos dentes de leite por meio do processo de mastigação e crescimento ósseo, e possui maior desenvolvimento quando os primeiros molares permanentes surgem.
Ambas as curvas, a de Wilson e a de Spee, são fundamentais para a saúde bucal e devem estar equilibradas para que se tenha uma mastigação eficiente e uma boa saúde da articulação temporomandibular.
4 ações para cuidar da saúde bucal das crianças
Os cuidados com a saúde bucal na infância são fundamentais para prevenir doenças bucais e problemas futuros, e estabelecer hábitos saudáveis. Para que você possa cuidar ainda mais dos seus filhos, sobrinhos ou crianças que fazem parte do seu dia a dia, essas são quatro ações que pode começar a fazer:
- Agendar a primeira consulta ao Dentista: recomenda-se que a primeira visita ao Dentista aconteça antes mesmo do primeiro dente aparecer. Dessa forma é possível ter um melhor acompanhamento do desenvolvimento da estrutura dentária, identificando e agindo de forma antecipada contra futuros problemas;
- Cuide dos hábitos alimentares da criança: procure evitar o consumo de alimentos e bebidas com açúcar, principalmente nos primeiros anos de vida. Prefira acrescentar alimentos mais nutritivos e que contribuem para a saúde em geral como frutas, vegetais e laticínios;
- Limpe as gengivas das crianças: não é preciso esperar ter o primeiro dente na boca para iniciar a limpeza diária. Tendo somente a gengiva, é fundamental fazer a limpeza com uma gaze ou pano limpo e úmido para retirar resíduos do leite e não dar motivo para que bactérias possam agir e formar cáries;
- Incentive hábitos saudáveis: além de oferecer alimentos menos açucarados e mais nutritivos, monitore o tempo de uso do bico e se a criança chupa o dedo por muito tempo. A frequência desses hábitos prejudica o alimento dentário.
Esses e outros cuidados com a saúde bucal auxiliam a estabelecer uma base e estrutura dentária forte e saudável nas crianças, o que permite com que elas tenham a longo prazo mais qualidade de vida, um sorriso bonito e uma boa autoestima.