Você já ouviu falar em mimetismo? A palavra tem como significado o ato de imitação da natureza. Da mesma forma que uma pessoa que consegue sentir a natureza ao toque e imitar as circunstâncias da mesma, como a sua beleza, sons e propagações e relações na cadeia alimentar, o mimetismo pode ser entendido como o ato de construir características adaptativas. Na odontologia, a Biomimética é uma ciência interdisciplinar baseada no estudo e na reprodução de biomateriais. Ela avalia a composição material das estruturas naturais e cria substitutos a partir do estudo do seu comportamento mecânico. Ou seja, ela está aliada a criação de substâncias artificiais que substituem as naturais a fim de promover uma manutenção do órgão dental.
Em outras palavras:
Atualmente, diversos dentistas aderiram à biomimética com dois objetivos: melhorar a qualidade de vida do paciente e buscar uma alternativa tecnológica para evitar a extração e maiores danos à arcada dentária.
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Mas como a Biomimética funciona na prática?
É simples de entender: o esmalte e a dentina são as principais substâncias da formação do dente. A dentina é porosa e constitui a maior parte do dente, entre o esmalte e a dentina existe uma substância chamada jad- junção amelodentinária – uma cola que gruda o esmalte com a dentina.
A jad está em torno de todo dente, ela tem propriedade de absorver impactos violentos gerados pela mastigação e contato dentários, fazendo com que a força se dissipe horizontalmente, sem danificar este dente. Quando o dente tem a jad em perfeitas condições ele consegue absorver, sem maiores prejuízos, os impactos funcionais da mastigação. A jad cuida para que haja uma distribuição de forças iguais a fim de reservar o dente.
Contudo, quando o paciente já sofre com cáries ou algum outro problema que necessite de uma limpeza profunda na dentina, acontece o rompimento da jade, ela é perdida pelo processo da cárie e no tratamento (quanto maior for a cárie, maior a cavidade formada). Assim, após a perda da jad, a mecânica do dente muda, e ao invés da força de mastigação dissipar horizontalmente o impacto, ela irá agir verticalmente, atuando diretamente no centro do dente e incidindo na região das raízes.
Com o tempo, essa força vertical começa a criar microtrincas na estrutura do dente, uma vez que não há mais a jade para dissipar. Estas microtrincas passam a crescer e se emendar e, assim, cria-se uma trinca grande, chamada trinca catastrófica, que causa a rachadura do dente ao meio e a necessidade imediata de um implante.
A biomimética age diretamente neste processo de restauração ao criar fibras de vidro que irão “imitar” a ação da jade no dente reconectando as paredes dentárias evcria uma nova estrutura capaz de fazer o dente reabsorver o impacto e dissipa-lo horizontalmente, não tendo mais a incidência na raiz, mas moldando mecanicamente a estrutura para toda a superfície.
Outras aplicações da Biomimética na odontologia
As trincas não precisam ser, necessariamente, criadas por restaurações de cáries, podem acontecer em uma dentição íntegra, sem problemas, mas que tenha incidido sobre ela o apertamento e a atrição dentária.
O popularmente chamado bruxismo é uma força parafuncional que tem como principal sequela as microtrincas e a rachadura do dente. Também nestes casos, a Biomimética irá agir como uma restauradora das propriedades naturais deste dente, a fim de evitar que ele se parta ou crie outros problemas graves para a saúde bucal do paciente.
Outro caso comum na odontologia é a restauração indireta, ela acontece quando o dentista, no lugar de criar uma cavidade normal para a restauração dentro da boca, cria a restauração fora da boca do paciente por meio da polimerização – conversão de um monômero para um polímero – Esse material se torna mais resistente, uma vez que é desenvolvido em laboratório e consegue ter maior propriedade de resistência.
O Biodome é, também, um método usado e que se alia à ideia da biomimética. Baseado na técnica dos arcos, funciona como o nome sugere, como uma cúpula de igreja no qual a força estrutural que vem de cima sob o dome se dissipa na base de cada arco, criando a sustentação da capela.
Na odontologia, a ideia é parecida: quando o dente tem muitos problemas estruturais, é realizado um preparado para dar um “bioaro”, um anel de esmalte que fica preservado, e em cima dela é realizado o preparado com uma cúpula de resina em cima para blindar o dente danificado. Assim, o dentista devolve o dome para o dente e faz a proteção da estrutura dental dissipando as forças através dos arcos e do Bioaro.
Estes são apenas alguns dos exemplos de como a biomimética tem evoluído e dando novas possibilidades para a odontologia, trabalhando a qualidade de vida do paciente aliada a tecnologias de ponta. Há, ainda, diversas possibilidades a serem exploradas e métodos científicos a serem explorados pela biomimética, basta que o profissional busque conhecimento e atualização das inovações do mercado.