O quanto você valoriza o atendimento que recebe quando vai a um estabelecimento para comprar um produto ou usufruir de algum serviço? E o que estaria disposto(a) a fazer para ter uma experiência melhor com determinada marca? Um estudo feito nos Estados Unidos com 5 mil pessoas registrou que cerca de 48% dos consumidores partilhariam seus dados pessoais se isso fizesse com que eles tivessem uma experiência de cliente melhor. Mas qual a relação dos resultados dessa pesquisa com a área da Odontologia e a sua carreira? Se as pessoas estão dispostas a fornecer mais informações pessoais para ter uma experiência memorável com serviços e produtos, você não acha que se elas aprendessem que transmitir mais dados e fatos sobre si mesmas melhora suas experiências e tratamentos no dentista, elas não partilhariam mais durante a consulta? Provavelmente sim, mas para isso, você, como profissional, também tem que fazer a sua parte. Neste artigo, irá entender qual o seu papel nesse processo e o porquê ter e analisar o histórico do paciente é tão necessário para o sucesso da sua carreira e segurança dos seus atendimentos.
Como ter acesso ao histórico do paciente
Desde o início da minha carreira, há 40 anos, acredito e tenho como base o fato de que cada paciente é único, possui sua própria história de vida e aquilo que ele já viveu, está passando ou está diretamente conectado a sua trajetória, pode impactar nos resultados dos tratamentos odontológicos. Assim como a Odontologia tem o poder de influenciar além da saúde bucal, o inverso também é verdade. Por isso, quanto mais entendermos os sintomas e histórico do paciente, maior a probabilidade de sucesso e redução de riscos dos tratamentos. Mas como fazer isso? Investindo na sua comunicação.
O histórico do paciente é uma base que nos auxilia no diagnóstico, planejamento e prevenções em cada caso que atendemos. Nós sabemos disso, mas nem sempre quem está à nossa frente, o paciente, tem conhecimento sobre essa importância. Pelo contrário, muitas pessoas omitem fatos e mentem sobre hábitos bucais por não fazer, aplicarem de forma incorreta, ou mesmo por acreditarem que serão julgadas pelo dentista. Na maioria das vezes, isso acontece pois o paciente não sente confiança no profissional, o que é resultado de uma falta de comunicação e compartilhamento de informações que vão muito além do questionário preenchido antes dele entrar no seu consultório.
Faça uma análise do seu atendimento e contato com seus pacientes. Quanto tempo você dedica para saber mais sobre quem está atendendo durante a consulta? Em 2022, um estudo mostrou que os profissionais da Odontologia dedicam menos de 13% do tempo de visita para conversar com os pacientes e que apenas 23% de quem é atendido consegue falar abertamente sobre suas dores, hábitos, sentimentos e preocupações.
Se a anamnese, ou seja, o registro das informações se baseia, de forma geral, naquilo que o paciente lhe fornece, e você não tem e nem mesmo trabalha para manter uma comunicação eficaz, o histórico que terá nas mãos será tudo, menos preciso e completo.
Riscos de não ter um histórico detalhado
A depender do caso, há pacientes que só vão ao dentista uma vez por ano. Isso significa que são 12 meses entre uma consulta e outra, e muita coisa em relação a sua saúde e rotina de vida pode ter acontecido. Se você não souber questionar para obter informações importantes que podem impactar na saúde bucal dele, provavelmente ele irá lhe informar apenas os últimos fatos, e isso quando houver, ou ainda não falar por achar que já compartilhou aquilo em outro momento e, na verdade, não o fez.
Medicamentos, tratamentos odontológicos anteriores, estilo de alimentação, rotina de trabalho, cuidados diários com a saúde bucal, possíveis doenças genéticas, tudo isso impacta no seu atendimento e pode determinar o sucesso e segurança do tratamento a ser aplicado no paciente. Quando há falha de comunicação entre vocês, fazendo com que não tenha acesso a essas informações, que para o paciente por vezes pode não fazer sentido fornecer, você acaba ficando vulnerável aos possíveis riscos:
- Não consegue prever se o paciente irá tolerar bem ou não o tratamento que irá propor;
- Não consegue prever ou mesmo estar preparado para emergências relacionadas àquele paciente;
- Não consegue desenvolver e aplicar um tratamento personalizado ao estado de saúde do paciente;
- Não consegue prever possíveis complicações e orientar o paciente da forma adequada para evitar ou lidar com as mesmas caso surjam.
É tendo uma boa comunicação com meu pacientes que consigo descobrir se eles estão com desconforto ao mastigar, problemas com atm e sensibilidade dentária, por exemplo. Esses são alguns dos sintomas que podem ser solucionados com a devolução da Dimensão Vertical de Oclusão, mas só consigo identificar isso e encontrar o melhor tratamento se o meu paciente falar que está com esses sintomas, como estão se sentindo e em quais momentos eles ocorrem.
Toda e qualquer informação relacionada ao histórico médico e de vida do paciente deve ser registrada, pois pode auxiliar a compreender tanto o comportamento daquela pessoa, quanto o impacto em tratamentos futuros. Por exemplo, se você descobre que o paciente não é organizado e esquece com frequência de fazer as coisas, talvez um tratamento que exija uma disciplina de cuidados diários não tenha os resultados positivos esperados, pois haverá falha por parte dele. Portanto, quanto maior for a sua comunicação e conexão com ele, maior será a segurança, eficácia e eficiência da sua prática odontológica e sucesso de carreira.
Dicas para melhorar a comunicação
A primeira etapa de qualquer tratamento odontológico é o relacionamento entre profissional e paciente. Se houver falha ou falta de comunicação, aumenta-se a possibilidade de riscos futuros e objetivo de melhorar a saúde bucal dos seus pacientes pode ir por água abaixo. Invista no desenvolvimento da sua comunicação com essas dicas a seguir:
- Aumente o tempo e melhore a qualidade da conversa com o paciente durante a consulta;
- Invista na Educação do paciente, explique o que pode e o que não pode impactar diretamente no tratamento. Nem todas as mulheres grávidas sabem que os hormônios durante esse período podem aumentar as chances de doenças gengivais, assim como nem toda pessoa com diabetes sabe que essa condição aumenta a possibilidade de ocorrência de doenças gengivais e pode até chegar a perda de dentes;
- Evite fazer perguntas com tom acusatório, ao fazer isso o paciente tende a se fechar e não querer compartilhar hábitos e situações por medo de ser julgado; e
- Invista em uma conversa fluida e natural para deixar o paciente confortável durante a consulta.
Lembre-se, a anamnese feita também por meio de diálogo durante a consulta, auxilia no seu diagnóstico e decisão de tratamento, assim como melhora o vínculo que você tem com seu paciente e, consequentemente, a experiência que ele tem com o seu serviço e atendimento. Se a experiência dele for positiva, maior será a confiança que ele terá em você e melhor será a sua imagem no mercado. Não superestime uma boa avaliação e interpretação do histórico médico e trajetória de vida do paciente, ela pode ser mais benéfica do que imagina.